quinta-feira, 10 de abril de 2014

O falcão e as teias


O falcão e as teias



O falcão voava, cortando o ar e o céu, centrado na essência do ser, na vantagem de ser ave e poder voar.

Sou o rei do céu! – pensava.

Olhos insensíveis, galgando o mundo, viajante incessante, poderoso.

Sentia-se acima de tudo livre, sem obrigações, podendo ser o que quisesse, decidindo dia a dia o que queria fazer.

Era feliz na sua vida inconstante.

Porém, um dia, apaixonou-se, porque ela era linda e interessante, lia os seus pensamentos e quase diziam em simultâneo as mesmas frases.

Casaram.

Nasceram filhos e o feliz falcão viu-se a braços com uma família fantástica que o enchia de satisfação e de orgulho mas que lhe condicionava os passos, os pensamentos, as viagens, a vida, a liberdade, preso e feliz nas teias familiares.

Já não estava centrado no céu e na essência do ser mas sim nas necessidades dos seus filhos e nas exigências e anseios da sua mulher.

Porém, também assim ele era feliz.

Outra etapa da vida, outra face da mesma moeda, já não era só ele mas sim eles.

Não se arrependeu.

Ser livre e só nunca o teria feito ser o avô mais amado do mundo, o avô Falcão.
O amor enche de sentido a vida do indivíduo. Em vez de significar prisão, cria um espaço de satisfação e de liberdade tão amplo que me parece ser a melhor opção que se pode fazer na vida.

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