sábado, 12 de abril de 2014

O rochedo e a água


O rochedo e a água
 

(cópia de outro artista)
 
(cópia de outro artista)

Os rochedos erguiam-se imponentes sobre a água do mar.

As ondas batiam furiosas nos rochedos e fustigavam-nos, indo pouco a pouco, desgastando-os.

Esta cena repetia-se ciclicamente, desde que o mundo se conhecia como mundo. Melhor dizendo, este era um episódio diário.

Apesar disso, nunca a água havia falado com o rochedo e o rochedo, fazendo-se de importante, fingia nem perceber as contínuas agressões da água.

Assim passaram séculos e milhares de séculos, até que um dia um golfinho magoado encalhou no rochedo. Estava muito ferido, sangrava e pensava que o seu destino seria a morte.

Porém, quando pressentiu o rochedo, agarrou-se com unhas e dentes à vida.

Submisso, com voz fraca mas determinada, suplicou:

- Amigo rochedo, por favor não me escorrace, estou entre a vida e a morte, tenha a gentileza de me auxiliar!

O rochedo, jamais havia sido interpelado por alguém, quedou-se indeciso, sem saber o que fazer ou responder.

Mas também, que diabo, era a primeira vez que alguém lhe dirigia a palavra. Resolveu não dizer nada e acenar com a cabeça, pensando - veremos no que isto vai dar!

O golfinho ficou grato, pelo menos ali poderia pernoitar e quem sabe ganhar algumas forças para continuar a viver.

Porém, sorrateiramente, chegou a água que começou na sua habitual tarefa de fustigar o rochedo.

O golfinho aflito suplicou:

- Amiga água, por favor não bata no rochedo, porque assim eu não vou conseguir sobreviver!

A água achou estranho, nunca ninguém tinha falado com ela. Mas se sempre havia feito a mesma coisa desde que se conhecia, porque motivo havia agora de interromper os seus hábitos?

Pensando isto, desferiu um rude golpe sobre o rochedo, atirando o golfinho para o mar.

Quanto este voltou à superfície o rochedo interveio:

- Água, andamos nesta guerra desde que nos conhecemos, mas podemos abrir brechas por uma noite, eu cá não me importo. Voltamos amanhã.

A água não podia acreditar no que ouvia. Afinal o rochedo até era capaz de falar! Retorquiu:

- Pode ser!

No dia seguinte a água voltou mas já não encontrou o golfinho. Perguntou ao rochedo?

- Sabes onde está?

- Lançou-se ao mar, hoje de manhã, com medo que tu chegasses!

A água pensou que não queria mal ao rochedo mas não resistiu e investiu contra ele, como era hábito.

O rochedo estremeceu mas pensou que também ele não saberia viver sem as investidas da água. Até ontem, nunca tinham conhecido outra forma de comunicar, agora que sabiam ser possível conversar, talvez pudessem mudar os seus hábitos, devagar, lentamente, com o rolar dos anos.

Quem sabe um dia poderiam até ser amigos!

Fazemos o que nos ensinaram, o que nos parece fácil, o que nos é habitual, este é o nosso ponto de conforto.

E que tal fazer hoje alguma coisa diferente? Alguma coisa que por norma não faríamos?

Talvez alguns de nós ficassem surpreendidos com essa aventura!

E que tal levar isto a sério e começar hoje?

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