O leão e o tigre

O leão e o tigre

 

O leão ronceiro e bonacheirão achava-se muito importante e considerava-se o rei da selva. Vivia feliz e contente, comendo o que a esposa, a leoa, caçava.

Resfolegava de prazer e dormia pacatamente, degustando a sua vida tranquila e pachorrenta.

O respeito que os outros animais lhe tinham, advinha da sua pose de força e de poder. Era temido na selva, mais pelo seu potencial do que pelos seus actos.

O leão vivia em paz, liderando a sua manada.

Porém, um dia, deu por si rugindo alto e a bom som, correndo desordeiramente pela mata e assustando deveras toda a população da selva.

Surpreendeu todos com a sua irritação, deixou cair a sua máscara e saltou, sem aviso prévio, em cima de uma desprotegida zebra que assustada, não conseguiu evitar o rude golpe.

O leão não se reconheceu.

Olhou para o seu corpo mas permanecia o mesmo leão de sempre, porém, agia como fosse um tigre selvagem.

Onde teria escondido tantos anos, em si mesmo, esta faceta diabólica que surgiu de repente mas que até agora desconhecia?

O que teria feito despoletar tamanho ímpeto psicopático?

Que necessidade tinha ele disto?

Desde sempre, tinha sido educado para ser calmo e delicado, omitindo toda a sua agressividade. Esta surgira hoje.

Afinal era pacífico mas continha em si mesmo a faceta oposta, o seu lado diabólico, persona versus sombra, a máscara que escondia a sua identidade.

Após este episódio, o leão ficou confuso e perdeu todas as suas certezas. Perguntava a si próprio:

- Quem sou eu afinal?

Conhecermo-nos implica olharmos para dentro de nós próprios, em vez de deixarmos que os outros ditem a nossa vida. Saber quem somos significa que estamos conscientes de que somos os únicos responsáveis por tudo aquilo que fazemos, por todas as decisões que tomamos e pela maneira como interpretamos tudo o que nos acontece.