O
tigre e o poder
Poderoso, o tigre
galgou a água, avançando destemido e decidido.
Era o dono da terra e
agora dominava também o rio.
Nenhum outro bicho
ousava desafiá-lo.
Era uma boa sensação,
de poder, de domínio.
Ser dono da selva,
sentir-se temido por todos os outros seres.
Mas, por causa disso,
também era o mais solitário dos animais. Ninguém ousava enfrentá-lo, nem tão
pouco dirigir-lhe a palavra. E por causa disso, ele também se sentia abandonado
e aborrecido.
Certo dia, em que fazia
o seu habitual passeio matinal pelas margens do rio, encontrou um coelho
branco, armado em esperto, que lhe dirigiu a palavra, replicando:
- Acho que vou fugir!
Corram pernas!
O tigre respondeu: - Podes
ficar, deixo-te em paz!
- Fia-te na Virgem e
não corras! – disse o coelho e não resistiu, desatando a correr pelo terreno
ensopado.
O tigre pensou que o
melhor era nem reagir, porque ele próprio tinha muitas dúvidas quanto à sua
capacidade de cumprir o prometido, o mais provável era comer o coelho de
qualquer maneira.
Passados dias, repetiu-se
o mesmo episódio com uma raposa: - Não fico, gritou esta e fugiu.
O tigre começou a
pensar no paradoxo, agora que tinha a intenção de arranjar novos amigos,
ninguém o levava a sério e não acreditavam na sua palavra.
Quando
vivemos a nossa vida com base em determinadas regras, não conseguimos mudar os
nossos hábitos de um dia para o outro. É natural que ninguém acredite nas
nossas boas intenções de mudança, quando até aí praticámos o oposto do que
agora nos propomos. A melhor maneira de provar que mudámos é comportarmo-nos
primeiro em conformidade, antes de apregoar eventuais alterações.
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