quinta-feira, 10 de abril de 2014

O tigre e o poder


O tigre e o poder
 

Poderoso, o tigre galgou a água, avançando destemido e decidido.

Era o dono da terra e agora dominava também o rio.

Nenhum outro bicho ousava desafiá-lo.

Era uma boa sensação, de poder, de domínio.

Ser dono da selva, sentir-se temido por todos os outros seres.

Mas, por causa disso, também era o mais solitário dos animais. Ninguém ousava enfrentá-lo, nem tão pouco dirigir-lhe a palavra. E por causa disso, ele também se sentia abandonado e aborrecido.

Certo dia, em que fazia o seu habitual passeio matinal pelas margens do rio, encontrou um coelho branco, armado em esperto, que lhe dirigiu a palavra, replicando:

- Acho que vou fugir! Corram pernas!

O tigre respondeu: - Podes ficar, deixo-te em paz!

- Fia-te na Virgem e não corras! – disse o coelho e não resistiu, desatando a correr pelo terreno ensopado.

O tigre pensou que o melhor era nem reagir, porque ele próprio tinha muitas dúvidas quanto à sua capacidade de cumprir o prometido, o mais provável era comer o coelho de qualquer maneira.

Passados dias, repetiu-se o mesmo episódio com uma raposa: - Não fico, gritou esta e fugiu.

O tigre começou a pensar no paradoxo, agora que tinha a intenção de arranjar novos amigos, ninguém o levava a sério e não acreditavam na sua palavra.

Quando vivemos a nossa vida com base em determinadas regras, não conseguimos mudar os nossos hábitos de um dia para o outro. É natural que ninguém acredite nas nossas boas intenções de mudança, quando até aí praticámos o oposto do que agora nos propomos. A melhor maneira de provar que mudámos é comportarmo-nos primeiro em conformidade, antes de apregoar eventuais alterações.

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